Uma vida validada pela morte

Os dias estão passando rápido demais, e parece que isso se torna imperceptível aos nossos olhos humanos, esta semana, quarta feira para ser mais exata, fez 2 anos da morte do meu irmão, do meu jeito eu senti isso, mas ao mesmo tempo essa perda sempre esteve muito bem resolvida para mim, e não me envergonho em dizer que precisei de ajuda profissional para entender o quando isso estava resolvido para mim.

Não sei dizer exatamente quando o luto acabou, nem mesmo se ele acabou, mas sei dizer que esses dois anos foram de entender detalhadamente o cuidado do Deus que me fez, me tem e me guia, notei claramente que mudei, em pontos para melhor em outros nem tanto...

Percebi realmente com quem contar, quem chamar de amigo, pra quem além de Deus chorar, como também entendi que há momentos em que meus amigos não poderão me entender ou ajudar. Setembro se tornou um mês ambíguo, tênue, um mês de alegrar e sofrer um pouquinho por motivos distintos. Inicialmente eu sofria por ser setembro o mês em que nasci, o mês em que meu irmão nasceu e o mês em que ele nos deixou. Não entendia muita coisa na verdade, mas notei no primeiro ano o quanto fui cercada de cuidados.

Esta semana uma amiga que conhece alguns dos meus dilemas de filha mais velha que luta para mostrar aos pais que agora é a única que está aqui, me mandou um texto que me deixou convicta de algumas coisas, o texto diz:

“Ser humano é estranho.... Briga com os vivos e leva flores para os mortos; Lançam os vivos na sarjeta e pedem um “bom lugar para os mortos”; Se afastam dos vivos e se agarram desesperados quando estes morrem; Fica anos sem conversar com um vivo e se desculpa, e faz homenagem quando este morre. Crítica, fala mal, ofende o vivo, mas o santifica quando este morre; Não liga, não abraça, não se importam com os vivos, mas se autoflagelam quando estes morrem... Aos olhos cegos do homem o valor do ser humano está na sua morte e não na sua vida.”

Esse texto trouxe a minha mente uma música bem conhecida: Gostava tanto de você, engraçado como somos pretensiosos quando a morte está em jogo, no simples fato de nos acabarmos quando ela chega em nossa tenda, oramos por cura e sim devemos orar, o problema está no quão mesquinhos nos tornamos quando tentamos fazer de Deus o nosso Senhor, ele está ali para nos servir e pronto pois nosso milagre é urgente, repetindo devemos sim orar, mas onde colocamos o “seja feita tua vontade” que Jesus nos ensinou a orar?

A morte pesa por protelarmos tudo, por sermos idiotas demais para passar por cima de um ego que quer ferir, mas que não sabe ser ferido, por preocuparmos- nos mais com quem tem razão, e esperarmos perder para reconhecer falhas em nós, precisamos que a morte chegue para termos belas palavras sobre quem não mais está aqui para ouvi-las, e assim a vida de quem foi passa a ter valor quando ele já não é necessário...

E assim fazemos as pessoas viverem em sua morte, o amor não dedicado em sua vida, a visita que não foi feita em vida se torna constantes, esquecemos porém que os túmulos não guardam nossas emoções, não mensuram nosso amor pois ele já não faz sentido algum.... Somos doentes, e nos mantemos incapazes de entender que é o significado de entendermos que a morte do outro é momento de cura para nós, eu acredito que a morte do meu irmão, por quem tanto orei não é um fracasso, mas uma cura na minha arrogância, na minha prepotência, na minha individualidade, pois tenho decido diariamente deixar que o sepulcro me fale, não do que me falta, não do que não está mais aqui, não da perda que tive ou do quanto sofri com ela, das lagrimas no meu lençol...

Deixei a morte do meu irmão me ensinar que a dor faz parte do cultivo da fé que abracei pois, também ter sido por Cristo abraçada, deixo o sepulcro me falar do valor do agora, deixo o tumulo que poucas vezes me visitei me lembrar que as flores que quero e tenho que oferecer devem ser feitas em vida, não adianta dizer “gostava tanto de você” a quem não pode ouvir...

Por quê não amar hoje? Por quê não perdoar agora? Por quê não visitar e ligar enquanto se pode construir memorias para contar antes de quem amamos partir????


Perdi o medo de ser clichê com a morte do meu irmão, pois vivenciei nas incontáveis madrugadas em que era eu e uma presença gostosa me recordando o quanto fora bom tudo que vive, trazer a memória o que me enche de esperança: AINDA QUE MORTO VIVERÁ... (João 11:26)

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