Casar é fechar os olhos...

Esta semana, conversando com um pastor ouvi algo que me deixou encantada ao mesmo tempo que reflexiva ele disse:

“– Olhe bem, sim abra bem os olhos quando estiver namorando. Olhe bem para enxergar todos os defeitos, por todos os ângulos e de todas as formas. Pois namorar é abrir os olhos, e casar... Casar é fechar os olhos, se você viu defeitos no namoro, e ainda assim resolveu se casar, não terá o direito reclamar do defeito após se casar.”

            Sinceramente???? Queria que os pastores falassem mais isso... 
Sabe aqueles discursos que dão vontade de aceitar Jesus de novo, ou dizer PALAVRA DA SALVAÇÃO GLORIA A VÓS SENHOR? E digo isso como um a solteira, que vê as atitudes de algumas pessoas em seus casamentos e cada vez mais está certa de que se for pra ter um casamento parecido, ficar sozinha é a escolha mais certa.

            E digo isso não como alguém que se levanta contra os casamentos, mas como alguém que não quer jurar amor em um momento de emoção e passar o resto da minha vida a reclamar por defeitos que eu devia ter visto antes de me comprometer com a pessoa diante dos nossos amigos e da nossa liderança, a fala desse pastor reforçou ainda mais minhas opiniões sobre o casamento.

             José Saramago diz que se Romeu tivesse olhos de águia, ele não se apaixonaria por Julieta, uma das vantagens de ter olhos de águia é poder enxergar em detalhes, enxergar além da aparência bonitinha, isso pode trazer à tona coisas com as quais não estamos dispostos a lidar, com as quais não conseguimos lidar, porém mais importante do que olhar, é o que faremos com o que vimos... Ignorar? Fingir que não vemos? Pagar o preço para fazer dar certo sem jogar na cara na primeira briga?

            Temos nos esquecido de aproximar daquilo que temos olhado, temos sido uma geração que jura amor eterno ao som de Trabalhistas “sou de ninguém, sou de todo mundo”, por que? Por que antes de olharmos o território gritamos um pra sempre que dura até a primeira mascara cair.

             Vivemos de projeções, está e a verdade, não entendemos que necessariamente não é do outro que precisamos para sermos felizes, e sim de sermos fieis a nós mesmos ainda que tenhamos o outro ou não, se trata de não depositarmos no outro expectativas, e está aqui a dificuldade dos relacionamentos, porque quando nos aproximamos, quando convivemos percebemos que o outro não era bem o que imaginávamos, nada é fixo, vamos nos machucar e isso é fato...

             Casar, relacionar é convivermos com o outro em sua porção inteira, unida à uma outra porção inteira de alguém, conviver é olhar microscopicamente o outro, isso vai muito além da toalha molhada na cama, da roupa fora do lugar... Casar é ver que as certezas serão dissolvidas, é entender que a paixão não vai sustentar por muito tempo alguém diferente de nós, em coisas tão metódicas talvez...

            Enquanto a paixão diz para sempre, o olhar de perto decide viver o infinito enquanto dure, enquanto a paixão se alimenta de declarações estrondosas, o conviver é construído em olhares cuidadosos, de voltar apesar do que viu, de entender que a responsabilidade de ser feliz, é sua e não do outro, pra variar é uma decisão... Sim como escolher ou não se casar apesar do que viu, escolher ou não abrir a porta sem reservas e convidar o outro a te olhar de perto...

             Por fim, não é que Saramago estava certo, Se Romeu tivesse olhos de águia talvez ele se assustaria com o que veria em Julieta, pois amar e conviver está muito além da superficialidade dos “para sempre” tão tolos que buscamos nos contos de fadas, pois amar é lutar sem tornar a convivência o campo de batalha contra o outro, é lutar para manter-se decidindo voltar, decidindo amar apesar dos defeitos, decidindo escolher o que fazer com o que vimos, decidir não jogar na cara a toalha molhada na cama e a falta de ação, de vontade e tantos outras coisas... Se casar é acima de todas as coisas Decidir entender que foi você quem escolheu os defeitos da pessoa que você tem do lado... Pois quando não desejar voltar... terá chegado a fim....

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